Interessante o que o conhecimento nos proporciona….ele sempre nos expulsa dos paraísos que criamos e nos acomodamos, por sinal a falta dele é enaltecida pelo profeta como causa da perdição (Os 4,6).
Falo do conhecimento a partir do amor, a qual todos os outros saberes, seja ele científico, antropológico, filosófico, sociológico, psicológico, artístico ou teológico devem se submeter e reverenciar. Para se ter acesso a ele nem é preciso saber ler ou escrever, apenas se interessar pelo bem.
Ele nos expulsa do paraíso de uma fé mesquinha, reducionista onde deus (com “d” minúsculo) é criado a imagem e semelhança das nossas experiências, vontades e projeções,onde se despreza a carne e a inteireza das potencialidades humanas.
Ele nos expulsa do paraíso da hipocrisia farisaica, que exclui o diferente, o ser humano, nosso irmão, que vitimado pela sua história ou por qualquer outra razão que não nos cabe julgar, fez escolhas opostas às nossas.
Sim, é bem mais fácil vive nestes paraísos exclusivistas, que na verdade não passam de um Inferno disfarçado de boas intenções, moral e religião…
Difícil mesmo é adentrar o Paraíso dos avessos e das diferenças, o que para muitos pode se tornar um verdadeiro inferno..pois nele se perde a primazia do direito a razão da verdade absoluta!
Ah.. o Paraíso dos avessos, lugar onde leão e cordeiro convivem juntos, onde homem e mulher estão lado a lado, desnudos das cascas e proteções que ocultam a verdade sobre nós mesmos, onde a integração com a criação é sentida e a abertura da consciência tem o tamanho do eterno, lá onde Deus não é mesquinho e não tem religião… mas é apenas AMOR!
Neste Paraíso quero adentrar, estar e viver, apenas viver, pois lá a morte não existe…dos outros, faço questão de ser expulso!
Então foi em vão que conservei o coração puro e na inocência lavei as minhas mãos? (Sal 72,13)
Perdoar a Deus?
Pode parecer estranho, mas muitas pessoas precisam, e se trata de um importante estágio da cura através do perdão.
A imagem de Deus como Pai, está profundamente ligada a figura do pai biológico, pois a idéia de paternidade é naturalmente estabelecida a partir da pessoa e do relacionamento com o genitor, ele é a primeira referência palpável que temos sobre o “ser pai”. Diante de um pai que apresenta falhas como ausência afetiva, alcoolismo, violência, traição, etc., pode haver uma associação de figuras e o surgimento da idéia de que Deus não é tão bom assim.
Quando nos deparamos com um desejo não realizado, logo podemos pensar que Deus é distante e desinteressado, diante da doença, alguma tragédia ou morte, o julgamos violento e vingativo, e quando vemos os outros se realizando emocionalmente ou materialmente, Deus pode estar nos traindo ou mostrando sua predileção por outro filho.
Racionalmente entende-se que são pessoas diferentes, mas inconscientemente as figuras estão relacionadas, como conseqüência o relacionamento com Deus fica limitado e reduzido a uma projeção. Com isso entendemos melhor a grande importância do perdão ao pai biológico, pois só a partir daí conheceremos e experimentaremos o amor de Deus Pai como realmente é, sem interferências e sombras, ao compreender estas realidades liberamos Deus da culpa colocada sobre Ele, tal atitude é perdão a Deus!
É possível perceber o ressentimento para com Deus surgindo em algumas situações:
1º – Na vida daqueles que vivem indiferente a fé, como se Deus fosse algo inacessível e que não se importasse com os problemas do ser humano, em um ateísmo declarado ou não. Enxergam Deus como o culpado por todos males da humanidade desde as crises interiores até aos grandes dilemas como a fome, doenças ou guerra.
2º – Nos indivíduos receberam uma formação cristã, aprenderam na catequese sobre o Deus que é Pai, e até procuram ter uma vida de fé através das tradições e religiosidade, porém ainda sem uma experiência profunda e real do amor de Deus.
3º – A transferência da culpa também acontece no interior das pessoas que já conseguiram perdoar o próximo e a si mesmo. Que Sentem o amor de Deus e começam a ir mais fundo em sua espiritualidade, mudam de vida, deixando de lado o que antes afastava do Senhor, muitas vezes passam por grandes renúncias e vivem um lindo processo de conversão geralmente prestando algum serviço, são os servos e ministros do Senhor.
Quando o servo passa por tribulações e não é atendido no tempo e da maneira desejada, pode surgir em seu coração a neblina da desconfiança, principalmente ao perceber que aqueles julgados como pecadores, maus e indignos estão prosperando. Infelizmente tenho visto muitas pessoas abandonarem toda uma vida ao lado do Senhor por não agüentarem mais esperar, ficando no coração apenas a mágoa para com Deus.
4º – No coração daqueles que se decepcionaram com a Igreja, seus ministros e pessoas que falam “em nome de Deus”, projetando sobre o Pai a frustração e a mágoa da decepção causada pelo suposto representante da sua Palavra.
Amigos, independente da situação, é preciso olhar além, saber que o primeiro interessado em nosso bem é o próprio Deus, pois nos ama incondicionalmente, que Ele é não é como o pai biológico com seus erros, que não é como aquele ministro da Palavra que não deu testemunho, e muito menos como um comerciante que negocia merecimentos para a benção.
Deus é Amor! Ele é o Pai Perfeito, incapaz de errar ou desejar o mau dos seus filhos tão amados.
Muitos gigantes da fé e profetas também passaram por crises na fé, como o salmista a questionar o “mistério da prosperidade dos maus” (Salmo 72), mas eles não se estagnaram na dúvida, buscaram as resposta de coração humilde descobrindo um amor simples, porém intenso e efetivo, descobriram que basta apenas desarmar o coração e deixar o Pai se aproximar e nos amar, sem medo de ser feliz!
Libere Deus da culpa que você colocou sobre Ele, olhe para a Cruz, Ele te ama!
“Quando eu me exasperava e se me atormentava o coração, eu ignorava, não entendia, como um animal qualquer.
Mas estarei sempre convosco, porque vós me tomastes pela mão. Vossos desígnios me conduzirão, e, por fim, na glória me acolhereis.
Afora vós, o que há para mim no céu? Se vos possuo, nada mais me atrai na terra.
Meu coração e minha carne podem já desfalecer, a rocha de meu coração e minha herança eterna é Deus.” (Sal 72, 21-26)
“Minha vida é fugaz, uma hora que passa, minha vida é tão curta e se vai de repente.” (Teresa de Lisieux)
Notícias que chegam do Sul enchem o nosso país de dor e comoção, são mais de 200 vidas que se esvaíram de forma desastrosa.
Como milhares de brasileiros, permaneço orando pelas vítimas da tragédia em Santa Maria / RS, principalmente pelas famílias que agora terão que conviver com a insuportável ausência de quem partiu de forma inesperada.
Diante deste lúgubre cenário, e conduzido pelas palavras de Teresa de Lisieux, foi impossível não refletir sobre a qualidade das relações que tenho mantido em minha vida, é neste momento que surge a minha segunda oração:
“Que eu não espere pela perda da minha família e amigos, para chorar a dor e a culpa de não tê-los abraçado, beijado, demonstrado todo o meu amor com gestos e palavras, por não ter dado e pedido o perdão tão necessário. Mas quando esse dia chegar, e chegará, que minhas lágrimas sejam fruto de uma saudosa e amorosa convivência, que elas caiam em paz, abençoadas pela típica serenidade que habita a consciência de quem ama.
Que eu não espere a sociedade entrar em caos para me arrepender pela contribuição negada na cura do mal contemporâneo do consumismo egoísta, imediatista e inconsequente, o grande agente construtor das relações líquidas tão próprias de nossa época. São essas relações que formarão os futuros protagonistas do colapso social, causado pelo vazio interior daqueles que se distanciaram tanto de si próprios ao ponto de esquecerem quem realmente são.
Que eu não espere a perda das preciosas almas humanas, compradas ao preço do sofrimento e do sangue de um Deus que de tanto amar se fez homem, para me consumir no remorso de nada ter feito ao vê-las cair na escuridão, mas que minha voz, minhas mãos, meus pés, enfim toda a minha vida, seja usada para chegar aos corações que se afastaram do céu e esperam ansiosamente por uma palavra que os leve de volta para casa.